Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível?

Convidados pelo The Architecture Project e no contexto de um Tour de Imprensa relacionado com a arquitetura da saúde, visitamos a cidade de Aarhus, na Dinamarca, para conhecer os últimos projetos de 'cura' (healing) que se estão sendo construídos na cidade.

Após anos suplantada por Copenhague, Aarhus é uma cidade portuária que procura reinventar-se e voltar a brilhar - e está conseguindo. A grata surpresa é que foram os arquitetos que impulsionaram esta mudança e que foi a arquitetura que invadiu todos os espaços, desde seu esquecido porto industrial até seu centro histórico cheio de valiosos edifícios patrimoniais.

Esta visita nos deixou importantes lições: "a arquitetura da cura" não se relaciona exclusivamente com os projetos hospitalares, mas com espaços que estimulam positivamente as pessoas, criam lugares amáveis para viver e conviver, ao conectar-se (o máximo possível) com o usuário para dar o que ele realmente necessita.

Confira algumas das suas estratégias, a seguir.

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Aarhus: um farol que se acende a la ultimidad

The Architecture Project é um grupo que procura criar instancias para reunir arquitetos, urbanistas, municipalidades, investidores e outros autores relacionados, com o objetivo de fazer cidades melhores. A partir deste encontro, cada um deles pode colocar suas ferramentas, aptidões e capacidades sobre a mesa a fim de gerar novas oportunidades de crescer.

'Como desenvolver a cidade de forma integral para gerar espaços que respondam a todos os aspectos das nossas vidas, e fazê-lo de forma sustentável? Não apenas no sentido estrito de implementação de tecnologias verdes, mas também social e culturalmente. O crescimento verde consiste em criar peças urbanas onde haja espaço para todos.'
(Jacob Bundsgaard, prefeito de Aarhus, durante a abertura da exposição Create with aarhUS)

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© José Tomás Franco

O plano de desenvolvimento para cidade de Aarhus está pensado para um crescimento estimado de 20 anos, alcançando 75000 novos habitantes, 50000 postos de trabalho, 15000 espaços para estudantes e 50000 novas moradias. Entre outras operações, o trabalho arquitetônico está centrado na transformação de alguns pontos notáveis da cidade, densificando através de uma arquitetura de alto nível e um planejamento urbano integral.

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© José Tomás Franco

Em todas estas inciativas urbanas a sustentabilidade é um tema corriqueiro. Não somente procurando reduzir a emissão de carbono, mas também garantindo o desenvolvimento de uma cidade construída para e com os cidadãos. Com este objetivo em mente, os arquitetos responsáveis estão desdobrando uma série de estratégias para relacionar-se diretamente com as pessoas que logo habitarão seus projetos, utilizando seus requerimentos tradicionais e experiência prévias como pontos de partida no momento de desenhar.

Arquitetos em busca de Feedback

Quando se tem metas tão ambiciosas como estas, deve-se entender profundamente as variáveis que permitirão alcançá-las. Os arquitetos dinamarqueses - como muitos outros ao redor do mundo - parecem entender que o êxito de uma obra de arquitetura está em responder diretamente as necessidades das pessoas que a habitarão. Simples sentido comum.

'O objectivo de um processo participativo é alcançar uma compreensão mútua do projecto e construir um sentido de propriedade e integração na comunidade local. Ao mesmo tempo, esta abordagem dá aos arquitectos a base necessária para poderem transformar as intenções do cliente no melhor projecto possível.'
(CEBRA)

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Cortesía de CEBRA

Por sua complexidade, os projetos visitados são um excelente exemplo de como enfrentar este desafio, já que nestes casos é particularmente necessário desenhar (com cuidado) para as pessoas que vão em busca do bem-estar corporal e espiritual. São, em sua maioria, espaços que se ocuparão temporalmente para curar-se e voltar à vida cotidiana; espaços que por alguns dias devem fazer com que o 'paciente' sinta-se em sua própria casa. Como relacionar-se com usuários variáveis e diversos - invisíveis para o arquiteto - mas que são tão importantes dentro do processo?

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Actividad ciudadana en torno a "The old coal bridge", junto a los arquitectos de SLETH. Image Cortesía de The Architecture Project

  • ESPAÇOS VARIÁVEIS 
    Para criar a experiência do usuário

A primeira visita nos levou a localidade de Sølund, a 25 km de Aarhus, onde conhecemos uma residência desenhada para estimular os sentidos de adultos com deficiência, pessoas que vivem em um estado de desenvolvimento cognitivo de uma criança entre 3 meses e 3 anos. A forma curva do edifício incorpora uma pequena montanha verde e é cruzada por um corredor central que conduz os pacientes a oito habitações diferentes; salas de audição, visão, olfato, paladar e tato. O percurso termina em um 'jardim sensitivo', com diferentes elementos recreativos e espécies vegetais estimulantes.

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Snoezelhouse / Aarhus Arkitekterne. Image Cortesía de aarhus arkitekterne

Neste caso, deveria ser encontrada uma maneira de se conectar com pacientes desconhecidos, ocasionais e com dificuldades para mover-se e compreender um espaço. Os arquitetos de Aarhus Arkitekterne, responsáveis pelo projeto, utilizaram esta aparente deficiência como uma oportunidade, criando a possibilidade de acomodar a experiência do paciente através da tecnologia, tornando-a parte do tratamento. Deste modo, uma série de salas brancas são transformadas através da iluminação, o som e a projeção de imagens em movimento, levando o paciente a lugares que talvez nunca poderia visitar em sua vida.

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Snoezelhouse / Aarhus Arkitekterne. Imagem © José Tomás Franco

Esta estratégia é exitosa e permite o tratamento efetivo de um grande número de pacientes, porém nem todos podem pagá-la e é dificilmente adaptável, já que requer um alto investimento econômico para ser implementada e executada. Entretanto, além do fato de que estas tecnologias não estejam ainda ao alcance de todos, a flexibilidade e a capacidade de adaptação do edifício são pontos-chave para cumprir com o requerimento recebido e garantir seu correto funcionamento. 

  • ENTREVISTAS
    E outros inventos inovadores

Quando se tem a possibilidade de conhecer os futuros habitantes de um projeto, a forma mais óbvia e direta de criar uma relação com eles é através do diálogo. Nos seguintes projetos visitados, como no edifício descrito recentemente, a primeira estratégia considerada pelos arquitetos é entender o usuário através de entrevias particulares. Por serem obras no âmbito da saúde, o maior feedback vem dos funcionários, assim como dos pacientes e das famílias que estão envolvidas em processos clínicos anteriormente. Mas algumas equipes foram ainda mais além.

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Climate Adaptation Park / Møller & Grønborg. Imagem © José Tomás Franco

A caso do Climate Adaptation Park em Viborg, desenhado pelos arquitetos Møller & Grønborg, apresenta uma interessante estratégia de aproximação com os futuros ocupantes do espaço. Quanto a saúde, este projeto possui um caráter mais 'preventivo', já que é um parque inundável de alcance urbano (10 hectares) que procura promover atividades esportivas e a vida ao ar-livre. O projeto foi desenvolvido através de um workshop que reuniu todos os atores envolvidos, realizando questionários com os vizinhos próximos, grupos relacionados (equipes de remos, grupos de conversa, entre outros) e finalmente o restante dos habitantes da localidade.

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Climate Adaptation Park / Møller & Grønborg. Imagem © José Tomás Franco

Para acelerar o processo e aumentar o nível de precisão da resposta, os arquitetos criaram postais com imagens atrativas do parque, que poderiam ser completados pelos entrevistados com seus sonhos e interesses. Ao mesmo tempo, criou-se um site e uma página de Facebook que até hoje são mantidos atualizados. O feedback recebido criou um projeto exitoso que hoje recebe visitantes de todas as regiões.

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Postales enviadas a la comunidad de Viborg. Image Cortesía de Møller & Grønborg

  • MODELOS EM ESCALA 1:1
    Que os usuários podem experimentar

Depois de conhecer projetos e intervenções de menor escala, passamos a visitar as obras de construção do maior complexo hospitaleiro da história dinamarquesa, o New University Hospital in Aarhus, desenhado por C.F. Møller. Com 970.000 m2 totais, 797 camas, 43 salas de diálise e 80 camas de hotel, o projeto é a remodelação e ampliação do hospital Skejby, de 1985. O edifício existente funcionava muito bem, por isso suas qualidades foram replicadas no novo projeto.

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Novo Hospital universitário em Aarhus / C.F. Møller. Imagem © José Tomás Franco

Mais uma vez foram realizadas consultorias aos usuários mas, desta vez, e como já é habitual no escritório, foram construídos modelos em escala 1:1 que poderiam ser experimentados pelos funcionários do hospital. Os modelos foram construídos com materiais simples e fáceis de trabalhar, para poder reconfigurar os espaços in situ, segundo o feedback recebido. 

'O esquema funcional e o planeamento do espaço nos novos hospitais são desenvolvidos e testados através de um Designlab; uma série de modelos em escala 1:1 onde os projetistas e a equipe do hospital podem verificar e refinar a operação de futuras instalações em um processo de cocriação.'
(C.F. Møller)

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Designlab by C.F. Møller. Image Cortesía de C.F. Møller

Através desta estratégia, enfatizou-se especialmente o desenho das habitações individuais. Além de contar com luz natural e vistas ao jardim, cada habitação foi pensada para que o paciente se sinta acolhido e não consiga perceber o enorme edifício em que realmente se encontra. Este protótipo pode ser visto no centro de visitantes da construção, onde é possível encontrar também maquetes, planimetrias e renders do futuro hospital.

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Modelo 1:1 de uma habitação tipo. Imagem © José Tomás Franco

  • PARTICIPAÇÃO CIDADÃ
    Levar a arquitetura até as ruas (e as redes sociais)

No exterior, no 'mundo dos sãos', a vida ao ar livre compartilhada com outros é um fator decisivo para manter a boa saúde dos habitantes de uma cidade. Apontando à esta direção, Aarhus colocou como objetivo reativar seus espaços públicos através da arquitetura, criando e regenerando pontos de encontro e interação para os cidadãos.

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Dokk1 / Schmidt Hammer Lassen Architects. Image Cortesía de Schmidt Hammer Lassen Architects

Um dos exemplos mais emblemáticos deste processo é o Dokk1, desenhado por Schmidt Hammer Lassen Architects, que forma parte fundamental do planejamento de transformação do porto interior de Aarhus, reformulando seu passado industrial e reconectando a cidade com a água. Planificado como uma grande 'praça coberta', o edifício não somente reúne as pessoas entorno da cultura e as artes, mas também funciona como um nó intermodal entre os distintos fluxos da cidade.

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Create with Aarhus, en Aarhus. Inauguración de la exposición en Dokk1. Image Cortesía de Schmidt Hammer Lassen Architects

Neste caso, os arquitetos tomaram como um ponto de partida uma ferramenta que o Conselho Municipal da cidade colocou a disposição de todos os executores de projetos de relevância cidadã: The Aarhus model for citizen involvement. Este instrumento democrático permitiu tomar as ideias e desejos dos vizinhos como inteligência coletiva, dando forma a um edifício que nos seus primeiros meses recebeu mais de 500.000 visitantes. As redes sociais são parte importante deste alcance, nas quais o hashtag #Dokk1 ganhou um grande popularidade, reunindo a experiencia dos usuários através da fotografia, vídeos e comentários.

'Na livraria #dokk1, as obras de arte de Kristine Roepstorff são reproduzidas toda vez que um bebê nasce no hospital comunitário. As pessoas na biblioteca começam a aplaudir espontaneamente.'
(@textweb en Instagram)

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#Dokk1 via @textweb

  • AVALIAÇÕES PÓS-OCUPAÇÃO
    O efeito da nossa obra a longo prazo

Positiva ou negativa, a experiência prévia sempre nos permite melhorar o próximo projeto. Nesta direção, é muito relevante analisar o comportamento das nossas obras anteriores e tirar lições. Os arquitetos de AART, pro exemplo, uniram-se ao Instituto Alexandra, especializado nos estudos antropológicos de espaços físicos, para realizar questionários sociais que permitam documentar o desempenho social dos seus edifícios já finalizados.

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Musholm Extensão / AART architects. Imagem © Jens Markus Lindhe

'Para compreender o impacto social do ambiente construído, a melhor forma de começar é explorando a experiência das pessoas. Ao entrevistar e observar os usuários, você pode ter uma ideia de como a arquitetura afeta seu conforto fisiológico e bem-estar psicológico. Por outras palavras, é essencial estudar o ambiente construído através de uma lente antropológica para que o desempenho social da arquitectura seja compreendido e melhorado.'
(AART Architects)

Os questionários seguem uma série de parâmetros definidos e estudam variáveis relacionadas ao uso (funções), o conforto (clima interior, iluminação), estética (materiais, formas, detalhes), a relação com o contexto (social, cultural e físico), os equipamentos sociais (espaços de interação), a fluidez (facilidade de movimento, desenho universal) e o entorno (relação com o entorno).

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Cortesía de CEBRA
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Cortesía de CEBRA

  • A IMPORTÂNCIA DOS DETALHES

Além das estratégias que mencionamos neste artigo, todos os projetos visitados coincidem em um ponto: a importância dos detalhes.

Nos chamou particularmente atenção, como os arquitetos dinamarqueses, em projetos de pequena ou grande escala - inclusive a nível urbano - dedicam grande parte do seu tempo para desenhar peças ou elementos que vão permitir um melhor uso do espaço no futuro. Em maior ou menor medida, isto estabelece imediatamente um vínculo entre o usuário e o arquiteto responsável, conquistando sua valorização e confiança. São pequenos gestos que não são traduzidos em maior gasto e que devolvem a escala humana para a arquitetura, sem importar-se com sua envergadura. 

Todas estas exitosas estratégias não fazem mais de que reafirmar a importância dos arquitetos no desafio que a cidade de Aarhus se auto impôs. Arquitetos que conseguiram ser influentes porque as pessoas, simplesmente, se sentem escutadas.

Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível? - Imagem 13 de 40Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível? - Imagem 14 de 40Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível? - Imagem 15 de 40Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível? - Imagem 16 de 40Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível? - Imagem 18 de 40Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível? - Imagem 19 de 40Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível? - Imagem 20 de 40Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível? - Imagem 21 de 40Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível? - Imagem 24 de 40Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível? - Imagem 27 de 40Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível? - Imagem 28 de 40Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível? - Imagem 30 de 40Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível? - Mais Imagens+ 35

Encontre mais informações relacionadas com The Architecture Project e o planejamento de desenvolvimento da cidade no seguinte link.

Sobre este autor
Cita: Franco, José Tomás. "Como os arquitetos dinamarqueses se conectam com seus usuários para criar a melhor arquitetura possível?" [¿Cómo los arquitectos daneses conectan con los usuarios para entregarles la mejor arquitectura posible?] 27 Mai 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Sbeghen Ghisleni, Camila) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/788026/como-os-arquitetos-daneses-conectam-se-com-seus-usuarios-para-dar-lhes-a-melhor-arquitetura-possivel> ISSN 0719-8906

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